terça-feira, 12 de junho de 2007

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--- E esse Salão dos Recusados prosperou, progrediu, ou teve vida curta?
--- Ele durou mais de dez anos, pois em 1874 entraram nele os grandes impressionistas, hoje os mais famosos pintores do mundo! Mas naquela época eram pouco conhecidos...
Mas foi na virada do século que a arte moderna explodiu de vez! Foi na transição do século dezenove para o vinte que o modernismo surgiu com força total e resolveu fincar suas raízes no meio artístico! Geralmente é sempre nessas viradas de século que coisas importantes acontecem no seio da humanidade!
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E assim Nicolay Tim aprendia rapidamente o que era e é a Arte Moderna, como surgiu, por quais motivos veio a existência e quais pintores foram seus criadores... O velho marchand, pacientemente, lhe ensinava tudo o que aprendera durante os mais de quarenta anos no ramo! E Tim estava adorando essa nova vida de pintor moderno... E pintava, pintava, pintava...
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Uma vez o velho Henry veio visitar Tim e este aproveitou para perguntar-lhe sobre um assunto que vinha ocupando sua atenção já fazia algum tempo.
--- Sr. Henry, lembra-se da primeira vez que fui ao seu sítio e o Sr. me mostrou um quadro de uma pintora chamada Mira, que valia uma pequena fortuna e o Sr. disse que ela era uma "minimalista". O que significa essa palavra: minimalista?
--- Minimalista, filho significa o que a própria palavra evoca: mínimo. É uma corrente dentro das artes em geral que cultiva em seus trabalhos a idéia do mínimo. Isto é, expressar o máximo com o mínimo. Um pintor minimalista colocará em suas telas o mínimo de elementos possível. Poucas cores, poucas pinceladas, poucas imagens. Algumas telas de Mira Schendel são compostas por uma massa de cor clara contendo apenas uma pequena letrinha, ou um sinal gráfico qualquer, ou até mesmo um simples rabisco. Qualquer artista pode fazer isso com a maior facilidade, mas nunca terá o valor de Mira, porque ela foi a primeira brasileira a usar essa técnica aqui no Brasil. No mundo da arte é sempre o "primeiro" a fazer uma coisa que tem valor. Os outros, os imitadores, não passarão disso. Portanto, quem quiser fazer carreira dentro das artes, quem quiser tornar-se mestre, ficar conhecido, deve inventar algo novo, deve CRIAR. Só os criadores são valorizados! Há, por exemplo, um pintor que faz apenas um corte, ou mais de um corte, na tela. Seu nome é Lucio Fontana. Seus quadros valem uma fortuna! Arcângelo Ianeli pinta imensas telas com apenas duas, três, ou até mesmo uma só cor. E essas telas são caríssimas. Ele foi um dos primeiros a fazer isso aqui!
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Portanto, nunca se esqueça. Em arte, quem cria, é o máximo. Quem copia, ou imita, não passa de uma sombra... Nunca terá a grandeza da luz! Quer iluminar o mundo, filho, crie! Invente! Descubra algo novo, que ninguém nunca fez! E é aqui que mora a dificuldade. Tudo o que um indivíduo resolve fazer, outro já fez antes. Mas na verdade isto é uma ilusão. Se o artista for persistente, acabará descobrindo algo inédito! Quando Cristóvão Colombo estava preparando a esquadra para sair ao mar em busca de novos mundos, seus amigos lhes diziam: "Não adianta, tudo o que tinha que ser descoberto, já foi! Não há mais nada de novo na Terra!" E isto foi a mais de quinhentos anos!
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E assim Tim aprendia cada vez mais. Havia encontrado um mestre! O máximo que um artista pode encontrar em seu caminho. Um mestre, um protetor, um guia, alguém que sabe pela experiência, não por leituras ou palestras, mas porque experimentou, viveu. O velho marchand já havia convivido com os maiores nomes das artes plásticas do mundo. Conhecia o segredo de todos, a vida de cada um, por isso se tornou milionário! E agora estava dedicando toda sua atenção a esse jovem artista cheio de boa vontade, cheio de gana, de sonhos. Tim não era o primeiro. Já havia criado muitos nomes nas artes brasileiras. Já havia tirado pintores das trevas do anonimato e lançado-os à luz da fama. Alguns ainda eram fiéis ao velho, porém outros, mais tolos, o abandonaram ao receberem os primeiros afagos da fama e agora haviam caído de novo no esquecimento. E o velho detestava a tolice. A ingratidão! Tim, porém, além de inteligente, ladino, era grato ao velho. Amava-o como a um pai. E os dois se davam muito bem. O velho, às vezes, olhava para Tim e via nele um filho, um neto. Tratava-o com carinho...Tim era um bom discípulo, um bom aprendiz! E o velho estava realmente decidido a tornar aquele jovem artista
um dos maiores gênios das artes plásticas do Brasil!
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E o velho planejava, fazia contas, cálculos... Pensava, pensava...Passava horas fumando seu cachimbo e com um bloco e uma caneta na mão calculava, fazia esboços e sonhava, imaginava, refletia, analisando tudo meticulosamente. Seu plano amadurecia a cada dia! Primeiro ele iria colocar os quadros de Tim em leilões pequenos, esses de lance livre. E iria pagar para alguns "laranjas" comprarem os quadros de Tim. Inclusive, disputarem os quadros. Depois iria fazer exposições em pequenas galerias de arte. Procuraria revistas literárias e pagaria para que o nome de Tim saísse, de alguma forma, em pequenas reportagens sobre arte, que são comuns nessas revistas. Ele tinha que fazer o nome "NICOLAY TIM ficar conhecido. Depois compraria espaços em revistas mais famosas, pagaria para repórteres fazerem reportagens sobre Tim, com fotos coloridas! Onde ele pudesse colocar o nome de Tim no meio artístico e literário, ele faria! Ele sabia que quando se trata de comercializar algo, vender, é preciso muita propaganda, muita publicidade! Sem propaganda, sem publicidade, nenhum produto, seja utilitário, intelectual, medicinal, alimentício ou artístico pode conquistar o sucesso, a vitória. Pelos seus cálculos iria gastar uns oitenta mil reais para promover o nome de Tim no mercado de arte. E para os quadros de Tim alcançarem um preço alto, levaria, no mínimo, uns dois anos. Mas depois que Tim começasse a subir, ninguém o pararia... Até lá ele já teria em seu poder mais de três mil telas de Tim. Imagine essas telas alcançando a cifra de uns cinco mil reais cada, quanto ele não ganharia? Por baixo, uns quinze milhões de reais!
Tim nem siquer imaginava o que o velho marchand planejava... Só pensava em pintar, pintar, pintar!
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E tudo sucedeu exatamente como o velho marchand planejou.
No começo os quadros de Tim eram vendidos em pequenos leilões e galerias de arte. Depois iniciaram-se as exposições, as vernissage. Em seguida, reportagens sobre Tim em todos os jornais e revistas do Brasil. Depois os quadros de Tim foram para os leilões mais badalados, onde freqüentavam gente da alta sociedade, ricos empresários, colecionadores, donos de galerias.
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Atualmente os quadros de Tim já alcançam a soma dos oito, dez mil reais. O velho está ficando cada vez mais milionário. E Tim também, porque depois de um certo tempo o velho redigiu outro contrato, onde os dois participam do lucro de cada quadro em cinqüenta por cento. Metade dos valores dos quadros vão para os bolsos do velho e a outra metade para os de Tim.
E foi assim que morreu o pintor acadêmico e nasceu o pintor moderno! Morreu o pobre e nasceu o rico! Morreu o passado e nasceu o futuro!
Esta história é ficção, mas pode ser real. Muitos dos pintores famosos da atualidade tiveram uma história parecida...

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